Boletim da Santa Sé
(Tradução: Jéssica Marçal, equipe CN Notícias)
CATEQUESE
Sala Paulo VI - Vaticano
Quarta-feira, 12 de dezembro de 2012
Queridos irmãos e irmãs,
Na catequese passada falei da Revelação de Deus, como comunicação que Ele faz de Si mesmo e do seu desígnio de benevolência e de amor. Esta Revelação de Deus se insere no tempo e na história dos homens: história que transforma “o lugar no qual podemos constatar o agir de Deus a favor da humanidade. Ele chega até nós naquilo que para nós é mais familiar, e fácil de verificar, porque constitui o nosso contexto cotidiano, sem o qual não seríamos capazes de entender” (João Paulo II, Enc. Fides et ratio, 12).
O Evangelista São Marcos – como ouvimos – relata, em termos claros e sintéticos, os momentos iniciais da pregação de Jesus “O tempo está cumprido e o reino de Deus está próximo” (Mc 1, 15). Isso que ilumina e dá sentido pleno à história do mundo e do homem começa a brilhar na gruta de Belém; é o Mistério que logo contemplaremos no Natal: a salvação que se realiza em Jesus Cristo. Em Jesus de Nazaré Deus manifesta a sua face e pede a decisão do homem de reconhecê-Lo e de segui-Lo. O revelar-se na história para entrar em relação de diálogo de amor com o homem, doa um novo sentido a todo o caminho humano. A história não é uma simples sucessão de séculos, de anos, de dias, mas é o tempo de uma presença que doa pleno significado e a abre a uma sólida esperança.
Onde podemos ler as etapas desta Revelação de Deus? A Sagrada Escritura é o lugar privilegiado para descobrir os eventos deste caminho, e gostaria – mais uma vez – de convidar todos, neste Ano da Fé, a tomar mais em mãos a própria Bíblia para lê-la e meditá-la e a prestar mais atenção às Leituras da Missa dominical; tudo isso constitui um alimento precioso para a nossa fé
Lendo o Antigo Testamento podemos ver como as intervenções de Deus na história do povo que foi escolhido e com o qual estabelece aliança não são fatos que passam e caem no esquecimento, mas tornam-se “memória”, constituem juntos a “história da salvação”, mantida vida na consciência do povo de Israel através da celebração dos acontecimentos salvíficos. Assim, no Livro do Êxodo o Senhor diz a Moisés para celebrar o grande momento da libertação da escravidão do Egito, a Páscoa hebraica, com estas palavras: “Este dia será para vós um memorial; o celebrais como festa do Senhor: de geração em geração o celebrais como um rito perene” (12, 14). Para todo o povo de Israel recordar isso que Deus fez torna-se uma espécie de imperativo constante, para que a passagem do tempo seja marcada pela memória viva dos eventos passados, que assim formam, dia a dia, de novo a história e permenecem presentes. No Livro do Deuteronômio, Moisés se dirige ao povo dizendo: “Guarda-te, pois, a ti mesmo: cuida de nunca esquecer o que viste com os teus olhos, e toma cuidado para que isso não saia jamais de teu coração, enquanto viveres; e ensina-o aos teus filhos, e aos filhos de teus filhos” (4, 9). E assim diz também a nós: “Cuides bem para não esquecer as coisas que Deus fez conosco”. A fé é alimentada pela descoberta e pela memória de Deus sempre fiel, que conduz a história e que constitui o fundamento seguro e estável sobre o qual construir a própria vida. Também o canto do Magnificat, que a Virgem Maria eleva a Deus, é um exemplo altíssimo desta história da salvação, desta memória que faz e tem presente o agir de Deus. Maria exalta o agir misericordioso de Deus no caminho concreto de seu povo, a fidelidade às promessas de aliança feitas a Abraão e à sua descendência; e tudo isso é memória viva da presença divina que nunca falha (cfr Lc 1,46-55).
Para Israel, o Êxodo é o acontecimento histórico central no qual Deus revela a sua ação poderosa. Deus livra os israelitas da escravidão do Egito para que possam retornar à Terra Prometida e adorá-Lo como o único e verdadeiro Senhor. Israel não se coloca a caminho para ser um povo como os outros – para ter também ele uma independência nacional - , mas para servir Deus no culto e na vida, para criar para Deus um lugar onde o homem está em obediência a Ele, onde Deus é presente e adorado no mundo; e, naturalmente, não só para eles, mas para testemunhá-lo em meio aos outros povos. A celebração deste acontecimento é um torná-lo presente e atual, porque a obra de Deus não falha. Ele tem fé em seu desígnio de libertação e continua a persegui-lo, a fim de que o homem possa reconhecer e servir o seu Senhor e responder com fé e amor à sua ação.
Deus também revela a Si próprio não somente no ato primordial da criação, mas entrando na nossa história, na história de um pequeno povo que não era nem o mais numeroso, nem o mais forte. E esta Revelação de Deus, que segue na história, culmina em Jesus Cristo: Deus, o Logos, a Palavra criadora que é a origem do mundo, encarnou-se em Jesus e mostrou a verdadeira face de Deus. Em Jesus se cumpre cada promessa, Nele culmina a história de Deus com a humanidade. Quando lemos a história dos dois discípulos no caminho de Emaús, narrada por São Lucas, vemos como emerge de modo claro que a pessoa de Cristo ilumina o Antigo Testamento, toda a história da salvação e mostra o grande desígnio unitário dos dois Testamentos, mostra a via da sua singularidade. Jesus, de fato, explica aos dois viajantes perdidos e desiludidos ser o cumprimento das promessas: “E começando por Moisés, percorrendo todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava dito em todas as Escrituras” (24, 27). O Evangelista relata a exclamação dos dois discípulos depois de terem reconhecido que aquele companheiro de viagem era o Senhor: “Não abrasava em nós o nosso coração enquanto Ele conversava conosco ao longo do caminho, quando nos explicava as Escrituras?” (v. 32).
O Catecismo da Igreja Católica resume as etapas da Revelação divina mostrando sinteticamente o desenvolvimento (cfr nn. 54-64): Deus convidou o homem desde o início a uma íntima comunhão consigo e mesmo quando o homem, pela própria desobediência, perdeu a sua amizade, Deus não o abandonou em poder da morte, mas ofereceu muitas vezes aos homens a sua aliança (cfr Missal Romano, Pregh. Euc. IV). O Catecismo traça o caminho de Deus com o homem a partir da aliança com Noé depois do dilúvio, ao chamado de Abraão a sair de sua terra para torná-lo pai de uma multidão de povos. Deus forma Israel como seu povo, através do acontecimento do Êxodo, a aliança do Sinai e a doação, por meio de Moisés, da Lei para ser reconhecido e servido como o único Deus vivo e verdadeiro. Com os profetas Deus conduz o seu povo na esperança da salvação. Conhecemos – através de Isaías – o “segundo Êxodo”, o retorno do exílio da Babilônia à própria terra, o restabelecimento do povo; ao mesmo tempo, porém, muitos permanecem na dispersão e assim começa a universalidade desta fé. No final, não se espera mais somente um rei, Davi, um filho de Davi, mas um “Filho do homem”, a salvação de todos os povos. Realizam-se encontros entre as culturas, primeiro com Babilônia e a Síria, depois também com a multidão grega. Assim vemos como o caminho de Deus se alarga, se abre sempre mais para o Mistério de Cristo, o Rei do universo. Em Cristo se realiza finalmente a Revelação na sua plenitude, o desígnio de benevolência de Deus: Ele próprio se faz um de nós.
Eu me concentrei em fazer memória do agir de Deus na história do homem, para mostrar as etapas deste grande desígnio de amor testemunhado no Antigo e no Novo Testamento: um único desígnio de salvação dirigido a toda a humanidade, progressivamente revelado e realizado pelo poder de Deus, onde Deus sempre reage às respostas do homem e encontra novos inícios de aliança quando o homem se perde. Isto é fundamental no caminho de fé. Estamos no tempo litúrgico do Advento que nos prepara para o Santo Natal. Como sabemos todos, o termo “Advento” significa “vinda”, “presença”, e antigamente indicava propriamente a chegada do rei ou do imperador em uma determinada província. Para nós cristãos a palavra indica uma realidade maravilhosa e perturbadora: o próprio Deus cruzou seu Céu e se inclinou sobre o homem; estabeleceu aliança com ele entrando na história de um povo; Ele é o rei que caiu nesta pobre província que é a terra e doou a nós sua visita assumindo a nossa carne, tornando-se homem como nós. O Advento nos convida a traçar o caminho desta presença e nos recorda sempre novamente que Deus não se retirou do mundo, não está ausente, não nos abandonou a nós mesmos, mas vem ao nosso encontro de diversos modos, que devemos aprender a discernir. E também nós com a nossa fé, a nossa esperança e a nossa caridade, somos chamados todos os dias a decifrar e testemunhar esta presença no mundo frequentemente superficial e distraído, e a fazer brilhar na nossa vida a luz que iluminou a gruta de Belém. Obrigado.
Na catequese passada falei da Revelação de Deus, como comunicação que Ele faz de Si mesmo e do seu desígnio de benevolência e de amor. Esta Revelação de Deus se insere no tempo e na história dos homens: história que transforma “o lugar no qual podemos constatar o agir de Deus a favor da humanidade. Ele chega até nós naquilo que para nós é mais familiar, e fácil de verificar, porque constitui o nosso contexto cotidiano, sem o qual não seríamos capazes de entender” (João Paulo II, Enc. Fides et ratio, 12).
O Evangelista São Marcos – como ouvimos – relata, em termos claros e sintéticos, os momentos iniciais da pregação de Jesus “O tempo está cumprido e o reino de Deus está próximo” (Mc 1, 15). Isso que ilumina e dá sentido pleno à história do mundo e do homem começa a brilhar na gruta de Belém; é o Mistério que logo contemplaremos no Natal: a salvação que se realiza em Jesus Cristo. Em Jesus de Nazaré Deus manifesta a sua face e pede a decisão do homem de reconhecê-Lo e de segui-Lo. O revelar-se na história para entrar em relação de diálogo de amor com o homem, doa um novo sentido a todo o caminho humano. A história não é uma simples sucessão de séculos, de anos, de dias, mas é o tempo de uma presença que doa pleno significado e a abre a uma sólida esperança.
Onde podemos ler as etapas desta Revelação de Deus? A Sagrada Escritura é o lugar privilegiado para descobrir os eventos deste caminho, e gostaria – mais uma vez – de convidar todos, neste Ano da Fé, a tomar mais em mãos a própria Bíblia para lê-la e meditá-la e a prestar mais atenção às Leituras da Missa dominical; tudo isso constitui um alimento precioso para a nossa fé
Lendo o Antigo Testamento podemos ver como as intervenções de Deus na história do povo que foi escolhido e com o qual estabelece aliança não são fatos que passam e caem no esquecimento, mas tornam-se “memória”, constituem juntos a “história da salvação”, mantida vida na consciência do povo de Israel através da celebração dos acontecimentos salvíficos. Assim, no Livro do Êxodo o Senhor diz a Moisés para celebrar o grande momento da libertação da escravidão do Egito, a Páscoa hebraica, com estas palavras: “Este dia será para vós um memorial; o celebrais como festa do Senhor: de geração em geração o celebrais como um rito perene” (12, 14). Para todo o povo de Israel recordar isso que Deus fez torna-se uma espécie de imperativo constante, para que a passagem do tempo seja marcada pela memória viva dos eventos passados, que assim formam, dia a dia, de novo a história e permenecem presentes. No Livro do Deuteronômio, Moisés se dirige ao povo dizendo: “Guarda-te, pois, a ti mesmo: cuida de nunca esquecer o que viste com os teus olhos, e toma cuidado para que isso não saia jamais de teu coração, enquanto viveres; e ensina-o aos teus filhos, e aos filhos de teus filhos” (4, 9). E assim diz também a nós: “Cuides bem para não esquecer as coisas que Deus fez conosco”. A fé é alimentada pela descoberta e pela memória de Deus sempre fiel, que conduz a história e que constitui o fundamento seguro e estável sobre o qual construir a própria vida. Também o canto do Magnificat, que a Virgem Maria eleva a Deus, é um exemplo altíssimo desta história da salvação, desta memória que faz e tem presente o agir de Deus. Maria exalta o agir misericordioso de Deus no caminho concreto de seu povo, a fidelidade às promessas de aliança feitas a Abraão e à sua descendência; e tudo isso é memória viva da presença divina que nunca falha (cfr Lc 1,46-55).
Para Israel, o Êxodo é o acontecimento histórico central no qual Deus revela a sua ação poderosa. Deus livra os israelitas da escravidão do Egito para que possam retornar à Terra Prometida e adorá-Lo como o único e verdadeiro Senhor. Israel não se coloca a caminho para ser um povo como os outros – para ter também ele uma independência nacional - , mas para servir Deus no culto e na vida, para criar para Deus um lugar onde o homem está em obediência a Ele, onde Deus é presente e adorado no mundo; e, naturalmente, não só para eles, mas para testemunhá-lo em meio aos outros povos. A celebração deste acontecimento é um torná-lo presente e atual, porque a obra de Deus não falha. Ele tem fé em seu desígnio de libertação e continua a persegui-lo, a fim de que o homem possa reconhecer e servir o seu Senhor e responder com fé e amor à sua ação.
Deus também revela a Si próprio não somente no ato primordial da criação, mas entrando na nossa história, na história de um pequeno povo que não era nem o mais numeroso, nem o mais forte. E esta Revelação de Deus, que segue na história, culmina em Jesus Cristo: Deus, o Logos, a Palavra criadora que é a origem do mundo, encarnou-se em Jesus e mostrou a verdadeira face de Deus. Em Jesus se cumpre cada promessa, Nele culmina a história de Deus com a humanidade. Quando lemos a história dos dois discípulos no caminho de Emaús, narrada por São Lucas, vemos como emerge de modo claro que a pessoa de Cristo ilumina o Antigo Testamento, toda a história da salvação e mostra o grande desígnio unitário dos dois Testamentos, mostra a via da sua singularidade. Jesus, de fato, explica aos dois viajantes perdidos e desiludidos ser o cumprimento das promessas: “E começando por Moisés, percorrendo todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava dito em todas as Escrituras” (24, 27). O Evangelista relata a exclamação dos dois discípulos depois de terem reconhecido que aquele companheiro de viagem era o Senhor: “Não abrasava em nós o nosso coração enquanto Ele conversava conosco ao longo do caminho, quando nos explicava as Escrituras?” (v. 32).
O Catecismo da Igreja Católica resume as etapas da Revelação divina mostrando sinteticamente o desenvolvimento (cfr nn. 54-64): Deus convidou o homem desde o início a uma íntima comunhão consigo e mesmo quando o homem, pela própria desobediência, perdeu a sua amizade, Deus não o abandonou em poder da morte, mas ofereceu muitas vezes aos homens a sua aliança (cfr Missal Romano, Pregh. Euc. IV). O Catecismo traça o caminho de Deus com o homem a partir da aliança com Noé depois do dilúvio, ao chamado de Abraão a sair de sua terra para torná-lo pai de uma multidão de povos. Deus forma Israel como seu povo, através do acontecimento do Êxodo, a aliança do Sinai e a doação, por meio de Moisés, da Lei para ser reconhecido e servido como o único Deus vivo e verdadeiro. Com os profetas Deus conduz o seu povo na esperança da salvação. Conhecemos – através de Isaías – o “segundo Êxodo”, o retorno do exílio da Babilônia à própria terra, o restabelecimento do povo; ao mesmo tempo, porém, muitos permanecem na dispersão e assim começa a universalidade desta fé. No final, não se espera mais somente um rei, Davi, um filho de Davi, mas um “Filho do homem”, a salvação de todos os povos. Realizam-se encontros entre as culturas, primeiro com Babilônia e a Síria, depois também com a multidão grega. Assim vemos como o caminho de Deus se alarga, se abre sempre mais para o Mistério de Cristo, o Rei do universo. Em Cristo se realiza finalmente a Revelação na sua plenitude, o desígnio de benevolência de Deus: Ele próprio se faz um de nós.
Eu me concentrei em fazer memória do agir de Deus na história do homem, para mostrar as etapas deste grande desígnio de amor testemunhado no Antigo e no Novo Testamento: um único desígnio de salvação dirigido a toda a humanidade, progressivamente revelado e realizado pelo poder de Deus, onde Deus sempre reage às respostas do homem e encontra novos inícios de aliança quando o homem se perde. Isto é fundamental no caminho de fé. Estamos no tempo litúrgico do Advento que nos prepara para o Santo Natal. Como sabemos todos, o termo “Advento” significa “vinda”, “presença”, e antigamente indicava propriamente a chegada do rei ou do imperador em uma determinada província. Para nós cristãos a palavra indica uma realidade maravilhosa e perturbadora: o próprio Deus cruzou seu Céu e se inclinou sobre o homem; estabeleceu aliança com ele entrando na história de um povo; Ele é o rei que caiu nesta pobre província que é a terra e doou a nós sua visita assumindo a nossa carne, tornando-se homem como nós. O Advento nos convida a traçar o caminho desta presença e nos recorda sempre novamente que Deus não se retirou do mundo, não está ausente, não nos abandonou a nós mesmos, mas vem ao nosso encontro de diversos modos, que devemos aprender a discernir. E também nós com a nossa fé, a nossa esperança e a nossa caridade, somos chamados todos os dias a decifrar e testemunhar esta presença no mundo frequentemente superficial e distraído, e a fazer brilhar na nossa vida a luz que iluminou a gruta de Belém. Obrigado.